quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Love Boat vs. Rock´n Roll (Ou como estragar uma boa idéia)

Quem trabalha com comunicação sabe o quanto é difícil encontrar uma boa idéia. O que muita gente não sabe é que ter essa idéia pode não ser suficiente. Durante o processo, tudo pode acabar se perdendo.

Para exemplificar isso, vou usar o filme Os Piratas do Rock. Vamos começar pelo trailer:



Como você acha que deve ser esse filme? Algo próximo de uma comédia-sensual-pastelão-bizarra inglesa, certo? Olha, assisti ao filme. Ele até que não é ruim, mas não é esse o ponto.

A questão é que existe uma coisa MUITO legal no filme, que acaba ficando em segundo plano: a atitude rock´n roll.


Na época em que a história acontece (década de 60), os ingleses não podiam ouvir rock. As rádios eram controladas e tocavam apenas músicas clássicas. Isso era apenas o reflexo de algo maior: não havia espaço para o jovem na cultura e na sociedade. Ser jovem não significava nada.

Já nos Estados Unidos, o rock´n roll começava a libertar a juventude. Elvis Presley materializou uma atitude rebelde que já era notada em James Dean e Marlon Brando. Suas performances escandalizavam a sociedade conservadora americana e trouxe a sensualidade para suas casas. A música negra e country se encontravam numa voz que derrubava preconceitos. E o mundo nunca mais foi o mesmo.

Próximos à Inglaterra, barcos transmitiam a “música proibida” para os rádios de adolescentes sem voz, sem liberdade. Por estarem em águas internacionais, não havia nada que o governo britânico pudesse fazer. É pura rebeldia, é pura revolução. É puro rock´n roll.

Seria um exagero dizer que sem os barcos piratas os Beatles não existiriam? Talvez. Mas Perceba o quanto essa história, essa idéia é poderosa. Agora responda: você acha que isso fica claro no trailer? Você contaria assim uma história como essa? Numa comédia?

Para mim, uma boa idéia foi desperdiçada. O que era pra ser um filme inesquecível sobre a história do rock tornou-se apenas mais uma comédia britânica. Talvez erraram na escolha do diretor, talvez no roteirista. Mas, em algum lugar, a grande idéia morreu.

Será que, às vezes, não fazemos isso no nosso trabalho? Esquecemos o mais importante, perdemos a essência, desviamos do objetivo... Precisamos ficar de olho, senão uma das melhores histórias da história do rock´n roll podem parecer mais um episódio de Love Boat.

Um comentário:

  1. nao vi o filme, achei o trailer bem bunda e nao me motivei a checar o recheio. voce tem toda razao, as vezes uma ideia com DNA bem poderoso, pode ficar bunda mole. pasteurizada, neutralizada.
    o que é mais forte, vender comportamento pirata, transgressor, revolucao cultural? ou vender sexo facil, garotos descolados dancando yeah, yeah, yeah?
    a maioria dos executivos da maioria das industrias, suportados pelos resultados da maioria das pesquisas, responderia a 2a alternativa, na maioria das vezes.
    o bacana da historia, é que em alguns momentos, a coisa muda. o underground invade o mainstream. o virus muda a cara do ecosistema. a minoria deixa de ser irrelevante e passa a influenciar e renovar do status quo.
    foi assim no mundo da musica nos anos 60, essa foi a contribuicao do Rock'n'Roll para a sociedade da epoca. e este mesmo processo acontece hoje atraves da tecnologia e sua veia "desruptiva", em varias vertentes. inclusive na musica. e por que nao, na progaganda.
    ficar agindo conforme a maioria é seguro. na maioria das vezes. mas algumas vezes, e hoje estamos no apice deste um destes momentos, agir assim é muito perigoso.
    e muito sem graca ...

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