quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Brainstorm VS Boringstorm

Seu chefe chega para você e diz: “Precisamos de idéias realmente inovadoras”. Aí você entra numa sala para fazer brainstorm e, por mais que tente, sempre tem algo ou alguém atrapalhando. Às vezes é gente demais na sala. Às vezes é um chato que vive criticando qualquer idéia que aparece. Às vezes é a falta direcionamento ou informação. Na maioria das vezes, não sabemos o motivo.

Essa confusão começa porque usamos diferentes capacidades do cérebro ao mesmo tempo: criatividade, emoção, lógica, etc. Qual seria o resultado se a gente usasse uma delas de cada vez?

Six Thinking Hats
Segundo o livro de Edward de Bono, cada aspecto do nosso pensamento pode ser representado por um chapéu. Ok, ninguém vai usar chapéu no meio da reunião. Mas o conceito por trás disso é simples e, ao mesmo tempo, muito potente: usar cada habilidade do nosso cérebro no momento certo.

Ou seja, tudo é bem-vindo, desde que na hora certa: idéias, críticas, emoções. Dá uma olhada no que significa cada chapéu (ou momento):


- Branco: É neutro e objetivo, está relacionado com os fatos e informações realistas, com tudo que pode ser provado. É onde todos devem preencher as lacunas a respeito do assunto a ser trabalhado. Ou seja, todos podem contribuir com seu conhecimento ou então fazer as perguntas necessárias para que o tema fique suficientemente esclarecido.

- Vermelho: É a visão puramente emocional, onde os sentimentos tornam-se parte importante do mapa de pensamento e indicam uma direção. É o momento onde cada um pode dizer como se sente em relação a uma sugestão ou idéia. Não é necessário justificar, pois não faria sentido transformar um sentimento num argumento lógico.

- Preto: Cuidados que devem ser tomados. É a hora do “Advogado do Diabo”, onde devemos considerar os riscos, obstáculos, fraquezas, eventuais problemas ou desvantagens da sugestão. Podemos usar como referência experiências anteriores ou valores da marca. Ou seja, a pergunta que deve ser feita aqui é: o que pode dar errado?

- Amarelo: O que pode dar certo? Aqui vamos exercitar nosso lado positivo, de forma construtiva e otimista. Não pode ser confundido com apenas um momento de euforia ou para se ter novas idéias. Tem a ver com fazer as coisas acontecerem. Especular e procurar por oportunidades, para fazer com que a sugestão inicial seja ampliada.

- Verde: É o momento mais fértil, diretamente relacionado à criatividade, e onde devem aparecer as novas idéias. Representa a busca por alternativas, o pensamento “fora da caixa”. Aqui o movimento entra no lugar de julgamento: deve-se partir de uma idéia em busca de uma nova, sem julgar sua qualidade. A provocação é importante, feita através de abordagens e filtros diferentes, a fim de gerar percepções inéditas.

- Azul: Esse chapéu está relacionado à organização. É onde paramos para nos perguntar se os trabalhos estão no caminho certo. (Estamos chegando numa solução? Estamos trazendo idéias realmente novas? Estamos dentro do prazo?) Esse chapéu sugere controle e, por isso mesmo, pode ficar a cargo de uma única pessoa, pois ela deve: determinar o foco, definir o tempo para cada tipo de pensamento, organizar o processo, se preocupar com resumos, overviews e conclusões, etc.

E no Brainstorm?
Se a gente for pensar no nosso dia-a-dia e tentar colocar esses chapéus num processo, podemos ter algo nesse sentido:

1) Branco: é o processo de briefing, debriefing e alinhamento, onde todos devem perguntar o que for preciso para o assunto ficar 100% claro.

2) Verde: momento de ser criativo, inovador, buscando novas idéias. Movimento no lugar de julgamento (vamos falar disso mais à frente).

3) Vermelho: das idéias que temos, qual é aquela que a gente mais gosta? Aqui vale a espontaneidade do sentimento e não uma argumentação lógica.

4) Preto: quais são os riscos e problemas dessa idéia?

5) Amarelo: como podemos ampliar a idéia de que mais gostamos? Existe alguma oportunidade (tecnológica, promocional, etc.) que pode ser aproveitada? O que podemos fazer para amenizar os pontos levantados no item anterior?

6) Azul: o trabalho desenvolvido até aqui responde ao briefing? Chegamos lá ou ainda podemos ir além? Temos tempo para isso?

Julgamento VS. Movimento
Ao ler o livro, um ponto que fez muito sentido para mim foi o conceito de Movimento no momento em que estamos tendo idéias novas. A começar pela total ausência de julgamento: nessa hora, não devemos pensar se a idéia é boa ou ruim, apenas pensar “para onde ela nos leva”.

Entendo que pode parecer um conceito um tanto quanto abstrato, mas na prática ele faz toda a diferença. (Tente usar na próxima vez e veja se dá resultado para você.)

Além disso, esse conceito tem tudo a ver com outro livro do mesmo autor - “Lateral Thinking”.

O que o livro procura dizer é que, geralmente, procuramos resolver diferentes problemas usando a mesma abordagem – uma abordagem direta, frontal. Isso se deve ao fato que nos baseamos em nossas experiências passadas e em métodos que já conhecemos. Mas, dessa forma, conseguiremos sempre os mesmos resultados, sem conseguir criar inovação.

A solução seria, então, abordar o problema sob diversas óticas – ou seja, lateralmente.

Vou citar um exemplo que vi num blog um dia desses: você precisa encontrar um tesouro que está enterrado. Se no terreno há um poço, ou um buraco revirado, a tendência é a de você cavar mais fundo num desses buracos. Nossa percepção só enxerga inicialmente essas possibilidades. Então podemos até procurar usar ferramentas e materiais diferentes, mas sempre no mesmo buraco que já conhecemos.

O Lateral Thinking sugere que tentemos outras abordagens, diferentes das que estamos acostumados a utilizar. Dando um exemplo mais prático: imagine um brainstorm para uma campanha de carro. Como uma criança resolveria isso? O que o mecânico diria sobre o carro? O que o carro estaria fazendo no alto de uma montanha? E se o carro fosse um videogame, qual seria?

Essas diferentes abordagens servem para oxigenar a discussão e, possivelmente, encontrar idéias distantes de um sistema mais lógico e processual. Aqui também a questão do movimento é fundamental.

Observações

- Chapéu Azul: normalmente é o papel da pessoa mais sênior da mesa. É quem deve estabelecer o ciclo e direcionar o foco do brainstorm. Inclusive pode interromper um estilo de pensamento, seja por excesso de informação (exemplo: muitas idéias no chapéu verde) ou porque a sugestão não faz mais sentido (exemplo: críticas a uma idéia no chapéu preto acabam mostrando que o projeto não se sustenta).

- Chapéu Preto: sabe aquele chato que citei no começo do texto, aquele que sempre fica colocando defeito em qualquer idéia que aparece? Esse cara pode ser muito bom nessa etapa do projeto. Coisas como “Ah, isso não dá pra fazer...” ou “Ah, isso já fizeram...” funcionam bem aqui. O mais é importante usar com moderação, senão nenhuma idéia passa para a outra fase. 

Bom, essa é a minha interpretação. Recomendo a leitura, para que você tenha a sua opinião. Afinal, sabemos que no nosso mercado não existe regra: cada um faz do seu jeito. O mais importante é colocar todo mundo na sala para pensar igual, com o mesmo objetivo. Assim o brainstorm não corre o risco de ser um boringstorm  : )

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